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Pereira, Júlio Gonçalves (1893-) | Arquivo Histórico-Social / Projecto MOSCA

Nome: Pereira, Júlio Gonçalves (1893-)
Nome Completo: Júlio Gonçalves Pereira


História da Família: Anarquista convicto, Júlio Gonçalves Pereira, nasceu em 28 de Dezembro de 1893, em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. Aos 10 anos incompletos, com o curso primário concluído foi trabalhar em fábricas de tecidos onde o horário começava às 7 horas e terminava altas horas da noite. Cresceu entre as máquinas, ao som do barulho dos teares, dormindo sobre as sobras de linhas estragadas. E foi nesta escola da vida que o adolescente formou as suas convicções ideológicas, calcadas na miséria e no sofrimento de todos e de cada um de seus companheiros. O anarquismo falava ao coração do proletariado e aliviava-o, oferecendo-lhe razões para viver e lutar. Aos 16 anos Júlio já era administrador do quinzenário O Fiandeiro, jornal da Associação de Classe dos Operários Fiandeiros do Porto. Pouco depois chega à' idade de servir no exército, em plena guerra de 1914-1918. Já fazia parte do Grupo Mocidade Libertária de Vilar do Pinheiro. Resolve não aceitar ser "carne para canhão", escreve um manifesto e vai viver clandestinamente em Espanha. Com o final da guerra retorna e entra em acção, ocupa a sua trincheira de luta escrevendo manifestos, falando nos comícios e escrevendo nos jornais, A Comuna, do Porto, entre outros. Mas veio a ditadura e com ela a perseguição feroz aos idealistas, mas Júlio estava firme, era um anarquista sem medo. Para uma melhor compreensão vamos dar a palavra a sua filha Helena: "O jornal A Comuna (órgão dos anarquistas do Porto), com o regime de Salazar foi suspenso, as portas de sua redacção fechadas e seladas e os camaradas redactores e responsáveis presos. Naquele tempo, a Polícia selava primeiro as portas (nalguns casos) para depois proceder à apreensão dos seus pertences e implicar criminalmente os responsáveis pelo material de propaganda subversiva que encontrasse. A Redacção de A Comuna era na Rua do Sol, 131, rua estreita. O Governo Civil e a prisão do Aljube ficavam a poucos metros do local. Era preciso salvar os camaradas presos (ignoro os nomes e a quantidade dos presos), retirando do local tudo que fosse possível. Meu pai visitou alguns vizinhos do jornal, convenceu-os a não chamar a Polícia e juntamente com os anarquistas Domingos Carreira, Mário Fernandes de Azevedo, João Pereira Mendes Martins encostaram um caminhão no local, rebentaram as portas lacradas pela P.V.D.E., carregaram arquivos, máquinas, tipos, clichés, bibliotecas, colecções de jornais, móveis, enfim esvaziaram completamente o prédio. Mas o pior surgiu no instante em o polícia da ronda da noite se abeirou do caminhão para ver o que estava acontecendo e teve que ser dominado. Foi preso dentro da própria sede do jornal e Mendes Martins acabou comprando o silêncio do guarda por 500$00 (quinhentos escudos), naquele tempo bastante dinheiro. O polícia cumpriu bem o que tratara e só muito tempo depois compareceu na esquadra de polícia para dizer que a porta do jornal anarquista estava rebentada. Meu pai e Domingos Carreira conduziram o caminhão até Vilar do Pinheiro e puseram a salvo todos os pertences d'A Comuna. Mário F. de Azevedo e João P. M. Martins ficaram no Porto para acom-panhar o curso do processo, que acabou em breves meses de prisão, porque o "corpo do delito" sumira. Meu pai, a princípio, teve alguma ajuda, mas com a perseguição feroz da PIDE acabou sózinho e durante 48 anos de ditadura arcou com a responsabilidade de conservar, lubrificar máquinas, pulverizar livros e jornais e mudar de lugar algumas vezes para salvaguardar os arquivos de A Comuna, jornal que ajudou a fundar. Vilar do Pinheiro — Portugal, Fevereiro de 1976". Júlio Gonçalves Pereira morreu em 30 de Março de 1975, mas já não pôde apreciar a derrocada do fascismo. Havia algum tempo já que tinha perdido a razão.
Fontes: E. Rodrigues (1982). A oposição Libertária em Portugal. 1939-1974. Lisboa. Sementeira.
Nota do Autor: E. Rodrigues (1982)






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