Projecto MOSCA

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Projecto MOSCA: Fundamentos e objectivos

 

Nas sociedades modernas ocidentais, a diversidade, a crítica e o debate público tornaram-se elementos constitutivos do devir social e da cultura contemporânea. As aspirações emancipatórias, libertárias e de equidade dinamizadas por minorias sociais interagiram com as expectativas de progresso e os reflexos de prudência das grandes massas populacionais, ajudando (com a economia e a acção política institucionalizada) a configurar processos de desenvolvimento social abertos, contraditórios e, por isso mesmo, também relativamente frágeis e irrepetíveis.

O elevado grau de informalidade destas fermentações sociais aconselha a que se faça um esforço no sentido de preservar a memória e de registar as referências de tais iniciativas, núcleos, redes e discursos, restituindo-as devidamente tratadas, de molde a que possam servir à sociedade universal em gestação e, em particular, aos investigadores e agentes culturais interessados. Assim, além dos objectivos sócio-económicos formalmente definíveis como de “desenvolvimento social e promoção geral dos conhecimentos”, este projecto visa, mais em particular, a promoção da cidadania pela difusão e salvaguarda da memória e valores do movimento social crítico e alternativo em Portugal.

Ao designar desta maneira o objecto empírico do estudo, estamos a apontar para um universo que historicamente se desencadeou a partir de finais do século XIX e dos países então em vias de industrialização (fundamentalmente Europa e Américas), que não se constituiu em seguida como poder de Estado ou gestor do crescimento económico mas antes se manteve numa atitude distanciada e crítica face às grandes transformações e traumatismos do século XX (totalitarismos, guerras, holocaustos, nacionalismos, terrorismos, enriquecimento material, dominação da ciência e da técnica, etc.) e que hoje assume novas formas, inter-individuais e societais: o “cibernautismo”, o “altermundismo”, a “resistência ética” ou as “práticas de solidariedade directa” são experimentações contingentes e não-exclusivas de tal “movimento”.

No presente projecto, o estudo científico deste movimento social far-se-á a partir dos cinco seguintes planos de análise:

a) O movimento operário histórico, que contestou o industrialismo capitalista e a gestão centralizada e autoritária do Estado moderno;

b) O movimento de questionamento e pesquisa cultural que se desenvolveu em simultâneo nos domínios científico, filosófico, literário e artístico;

c) Os movimentos de experimentação e inovação comportamental e social, que tocaram questões e temas tão diversos como a saúde, a mulher, a sexualidade e a procriação, os modos de vida e habitação ou a relação entre os humanos e o mundo natural;

d) A busca e ensaio de formas de economia alternativa, não capitalista nem estatal, que hoje tomam geralmente a designação de “terceiro sector”;

e) A criatividade, iniciativas e vivências hoje experimentadas através do “ciber-espaço”, constituindo novas redes de sociabilidades horizontais, relativamente autónomas face às exigências produtivistas da economia oficial e refractárias às tentativas de controlo dos aparelhos políticos de enquadramento;

f) E as acções políticas de base, reclamando ou criticando o poder político institucional.

Encontramo-nos hoje numa época em que se concretizam já passos muito importantes e significativos no sentido de uma sociedade da informação e do conhecimento, de contornos globalizantes, mas onde as referências topográficas, temporais e da língua-veículo de comunicação (mas igualmente de pensamento e de acção e, portanto, também de significados) surgem como indispensáveis. O uso dos actuais recursos técnicos da tele-informática deve, pois, servir este propósito.

Foi já esta a preocupação que que levou à criação do Arquivo Histórico-Social (AHS) na Biblioteca Nacional, nos anos 80 do século passado.

Como metodologia e plano de trabalhos, o presente projecto vai incidir, sobre a documentação constituinte do Arquivo Histórico Social e da Associação Cultural "A Vida". Além do tratamento e descrição catalográfica destes materiais, que darão origem a um catálogo electrónico elaborado segundo procedimentos técnicos internacionais, serão produzidos também novos conteúdos, igualmente acessíveis através da Internet, entre os quais se perspectivam os seguintes:

- Dicionário biográfico de militantes;

- Base de dados de entidades associativas;

- Bibliografia de monografias e publicações em série;

- Roteiros da memória urbana;

- Biblioteca digital de trechos de obras;

- Exposições temáticas virtuais;

- Dados sociais (sobre trabalho, vida urbana, etc.);

- Trajectórias pessoais de mobilidade entre Portugal e o Brasil.

Nestes termos, o presente projecto assenta fortemente numa postura inter-disciplinar (abrangendo a sociologia, a ciência política, a história, a geografia, a língua e cultura portuguesas, e as ciências da informação e documentais), com dimensão internacional (Portugal, Brasil, Europa e línguas portuguesa e inglesa) e explorando a fundo as potencialidades contemporâneas das tecnologias de informação e comunicação (TIC).

Autor: J. Freire