Projecto MOSCA

  • Aumentar o tamanho da fonte
  • Tamanho padrão da fonte
  • Diminuir tamanho da fonte

Augusto José Godinho (1903-1962) | Arquivo Histórico-Social

Nome: Augusto José Godinho (1903-1962)


Nota Biográfica: Nasceu em Aldoar, Porto, em 1903 e faleceu na Foz do Douro em 1962. Operário pintor da Construção Civil, ex-presidente do Sindicato da Construção Civil de Matosinhos, conheci-o rapazinho ainda, quando a ditadura resolveu fechar todos os sindicatos que não quizessem enquadrar-se dentro das suas leis corporativas publicadas nos anos distantes de 1933-34. Foi visitar meu pai, seu companheiro de lutas e combinar com ele um lugar para esconder os pertences do sindicato. Jantou em nossa casa e desde então nunca mais deixei de admirá-lo, amigo das crianças, paciente, inteligente, culto, um verdadeiro anarquista nos actos e nas palavras. A sua imagem ainda vive fixada em mim, os seus exemplos de bondade e o seu dinamismo surpreendente, a sua resistência interior incalculável! Impossibilitado de trabalhar, resolveu, com outros companheiros, constituir uma cooperativa de construção civil e passou a empregar todos os perseguidos. Meu pai foi dos primeiros a receber a sua ajuda. Em liberdade vigiada depois de longos meses passados na sede da P.I.D.E., da Rua do Heroísmo e demitido por isso de empregado dos Portos e Docas de Leixões, foi depois de velho aprender o ofício de pedreiro e ganhando salário como tal, nessa cooperativa. Mas pouco depois a P.I.D.E. resolveu prendê-lo, cercou a sua casa e ele fugiu pelo telhado, viveu algum tempo na clandestinidade e por fim alcançou a França embarcando, com Abílio Faria, num navio cargueiro de nacionalidade francesa, ancorado no cais do rio Douro, no Porto, com a ajuda de companheiros anarquistas. Mais tarde regressou a Portugal por se recusar alistar-se na Legião Estrangeira, por determinação do governo fascista de Laval, foi preso, julgado, condenado e após o cumprimento da pena regressou ao seio da sua família, na Vilarinha, perto de Matosinhos. Impacientado com a situação portuguesa resolveu emigrar para Angola, ao tempo colónia portuguesa. E lá pelos anos de 1954, esquecido de que ali também imperava a P.I.D.E., enviei-lhe do Rio de Janeiro, alguns jornais libertários dentro de uma revista burguesa (O Cruzeiro) e tempos depois o bom amigo Godinho escrevia-me a dizer que acabava de deixar a sede da Gestapo de Salazar onde passou alguns dias sob o peso de ameaças, terminando: "Já me havia desacostumado, depois de mais de uma dezena de prisões, tinham-me deixado em paz. No entanto, é bom que te diga que nesta altura da vida não se muda de ideias e eles ignoram isso". Godinho desempenhou com dinamismo muitas funções nos meios operários e anarquistas e escrevia com brilho. Colaborou na Batalha e noutros jornais, embora gostasse mais da acção directa. Augusto José Godinho morreu e coube-me a ingrata "obrigação" de noticiar o seu falecimento no jornal Espoir de Toulouse, França, em 4-8-1963, onde rematava: "perco um amigo que me habituei a admirar desde rapazinho e o movimento libertário um dinâmico militante e os portugueses um dedicado defensor da liberdade plena".
Fontes: E. Rodrigues (1982). A oposição Libertária em Portugal. 1939-1974. Lisboa. Sementeira.
Nota do Autor: E. Rodrigues (1982)